sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Por que Eu não Sou Feliz


Por que Eu não Sou Feliz

Primeiro, devemos entender o significado da palavra feliz. Muitas pessoas acham que ser feliz é entrar no universo daquilo que foi pré-estabelecido pela sociedade dominante. No Brasil, parece que é alcançar um posto profissional invejável, ter um carro do ano que desperte admiração, se vestir com roupas aceitas pelas regras de um determinado grupo que a pessoa frequente, ir a lugares caros onde será visto e reconhecido por amigos comuns, viajar a locais da moda, e mais uma vasta quantidade de pré-quesitos sociais de sucesso e aparência para se sentir aceito e aprovado. Que tormento!

Já atendi muita gente que cumpriu essa extensa lista de afazeres e continua infeliz. O dinheiro nos traz comodidades, mas se for o objeto de nosso desejo, trará servidão e medo, basta visitar as manchetes dos jornais nos últimos meses. A pessoa que passa boa parte do seu tempo tomando conta da “bolsa”, do “dólar”, da “onça”, pensa que está vivendo, até infartar ou se matar.

Estou falando de bem-estar interno. De se gostar e se aceitar plenamente antes de se aventurar às mudanças de vida. Não para perseguir um sonho que é mais uma satisfação social do que uma agradável jornada. Não é para fazer feliz papai, mamãe, amigo, etc. É para se sentir feliz com você.

Nossa história pessoal é apenas parte de nós. Quando nos olhamos num espelho, temos que transcender a nossa porta de apresentação pessoal (aparência, currículo etc). Somos maiores do que isso, basta não permitir o EGO tomar conta de tudo. Ele faz com que nos vejamos limitados, medíocres, presos. Não é preciso desconstruí-lo, pois ele também é importante para a devida auto-avaliação. Não se pode é dar poder a ele. É como se numa empresa de grande porte, chamassem o faxineiro para decidir sobre os rumos da instituição. Cada um faz bem o que se propõe fazer. O EGO é um subalterno numa macroestrutura que devemos entregar para quem entende. Se formos deixar para ele as nossas grandes decisões, estaremos fadados não só ao insucesso como as más escolhas. O grande diretor presidente de nossa estrutura é o nosso EU SUPERIOR que está “ali” pertinho de DEUS. Quando não temos direção, o melhor a fazer é parar, esvaziar a cabeça e submeter a apreciação d´ELE.

A pergunta é: o que eu estou repetindo que ainda não entendi o porquê? Quando começou o que eu estou insistindo em fazer e para que propósito, o que está me ensinando? Uma vez aprendida a lição extraída dessas perguntas, a vida tratará, espontaneamente, de trazer as soluções.

Somos seres duais, vivendo experiências que precisam ser aprendidas. Não é necessário ficar julgando se fez ou não o que deveria, pois o que foi feito era o possível na hora. Livre-se da culpa, pois além de engessar, não traz nada de inteligente em nossa vida. Pare de perseguir modelos que não são seus. Você é único, portanto fará do seu jeito. Deixe as emoções fluírem, pois elas represadas quando saem, são perigosas. Não fique preocupado com o que os outros pensarão de você, pois não viemos aqui para sermos avaliados por ninguém, isso é outra cilada.

Ser livre é ter certeza que a sua vida está sendo dirigida pelo melhor pra você. É poder ver o que aconteceu de trágico ou de bom e dali extrair o que podemos aprender sobre isso. Nenhum acontecimento é em vão. Tudo está encadeado como numa trama de novela que dará um resultado. Tenha paciência e não queira ver logo o último capítulo. Não fique pensando que nada tem solução, isso é a sua voz interna (arquétipo) que está ali para te boicotar. Quando ela aparecer, converse com ela e faça algumas perguntas tais como o que ela quer dizer com aquilo, de onde surgiu tal história, o que você precisa saber mais sobre isso, até que essa voz não tenha mais função e se transforme num aliado. Aceite seu lado sombrio ou aquele do qual você não gostaria de expor ou mesmo lembrar. Lembre-se que tudo faz parte do nosso todo e quanto mais você aceitar aquilo que te envergonha, mais rápido se transforma em algo produtivo.

A nossa vida é uma série de acontecimentos que se forem compreendidos (sem julgamento) após os sentimentos externados, podemos construir algo verdadeiro e só nosso, com o nosso jeito e entusiasmo. Não fique preso no seu drama. Ele apenas serviu para te construir. Você é mais do que sua história. Aceite a sua grandeza. Isso sim é ser feliz!

Vera Ghimel

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

As Relações Afetivas e a Intimidade


As Relações Afetivas e a Intimidade

O que é ser íntimo de alguém? Temos pessoas com quem convivemos todo o tempo, colegas de trabalho ou mesmo familiares, que pouco sabem de nossas angústias, medos, desejos e alegrias.

Intimidade é diferente de convivência, conviver não é sinônimo de ser íntimo, apesar de muitos acreditarem nisso. Também é diferente de mistura, de simbiose. Não é possível ser íntimo de alguém se não houver individualidade. Primeiro ser, para depois compartilhar. Não se compartilha o que não se tem.

Nascemos do aconchego do útero materno, da sensação de segurança que ele nos proporciona. Naturalmente desejamos nos relacionar, somos seres sociais, nascemos carentes de afeto, atenção e aceitação. O ser humano tem uma demanda de amor, busca amar e ser amado todo o tempo. Nascemos e imediatamente precisamos de afeto para nosso processo de crescimento emocional, da mesma forma que precisamos de cuidados para nos desenvolvermos fisicamente. Recebemos da figura materna o amor incondicional, aquele tão buscado em nossa vida: ser amado pelo que somos, o pacote completo.

E o que isso significa? Significa que buscamos em nossas relações, na maioria das vezes de forma inconsciente, essa sensação primária de plenitude e segurança, refletida em maior grau nas relações de intimidade.

Intimidade é a possibilidade de relação mais próxima que implica em confiança. Confiar significa acreditar que seremos aceitos como somos, mas, não apenas pelo outro; para isso é preciso confiarmos em nós mesmos, em nossa capacidade de sermos genuínos, percebendo o que temos para oferecer numa relação tranqüila e prazerosa com o mundo. Contudo, é necessário o sentimento de esperança e fé no bom que existe no humano. Confiança se adquire através das relações e pela forma de relação que se estabelece, é um sentimento delicado e dinâmico, ela é como planta: se não regar morre.

Intimidade também implica em entrega. É uma via de mão dupla, ser íntimo é ser cúmplice, é estar ao lado do outro e não misturado ao outro. Trata-se de uma proposta de relação mais profunda, que implica em envolver-se, doar-se e saber receber o outro, aceitar e aceitar-se, é troca plena, é Encontro no sentido Moreniano.*

Você pode ser íntimo de um amigo com quem conversa sobre varias coisas e não ser íntimo da pessoa com quem você dorme. Os medos, crenças e as inseguranças são os grandes responsáveis pelas dificuldades de envolvimento. Algumas pessoas confundem intimidade com submissão, alienação e mistura, outras entendem como fraqueza, falta de individualidade ou demonstração de carência.

Nossa sociedade competitiva, capitalista e violenta, torna as pessoas cada vez mais acuadas e descrentes no humano e consequentemente em si próprias. O medo e a competição, fazem com que as pessoas se relacionem apenas com parte do outro - àquela que deseja superar – o que impede que a relação seja verdadeira. Geralmente quando pergunto: porque não assumir que é uma dificuldade sua? ... a resposta é na maioria das vezes: ...”eu??? falar de dores, limites, angústias... para que? Vou estar só me expondo! Ninguém vai resolver minhas questões!”.

Em parte é verdade, nossas dificuldades, na grande maioria das vezes só podem ser resolvidas por nós mesmos, mas nem sempre temos os instrumentos ou conhecemos os caminhos para resolve-las, aí que entra o outro, com sua vivência e experiência de vida.

Você já pensou se cada um tivesse que reinventar a escrita e a palavra sozinho, para poder se comunicar???... imaginem.. e se não tivesse ninguém disposto a aprender, só a ensinar??? Quanta perda de tempo!!!

Quando nos relacionamos percebemos que não estamos sós, não somos os únicos a ter dificuldades e sofrimentos; temos a capacidade de aprender com nossos erros e acertos e com os erros e acertos dos outros. Por isso que a relação de intimidade deve ser cultivada, escolhida a dedo. Faz parte de nosso desenvolvimento emocional aprender a escolher entre as pessoas de nosso convívio, aquelas que merecem nossa confiança, ou seja trata-se de uma questão de auto proteção, da capacidade de aprender a cuidar de si mesmo.

Ser íntimo significa compartilhar tudo? Dizer tudo, o que pensa e sente? até os pensamentos? Se pensamentos fossem para ser ouvidos eles aconteceriam em alto e bom som!

Você deve estar pensando, mas então eu não deveria compartilhar minhas idéias, sentimentos e pensamentos? É claro que sim!, mas escolhendo com quem e o que compartilhar, nem sempre o outro “agüenta” ou está preparado para o que estamos pensando ou desejando.

Aqui retornamos na questão da individualidade. Costumo brincar dizendo que, até dentro do útero materno temos a proteção de ”uma bolsa”, sabiamente colocada pela natureza. Na verdade nascemos concretamente de dentro de outra pessoa, mas não ficamos fisicamente em nenhum momento misturados ao outro, apenas emocionalmente. Talvez seja por isso que é tão comum a confusão entre capacidade de se envolver intimamente e a mistura relacional.

Segundo a visão de desenvolvimento humano proposto por J.L. Moreno, criador do Psicodrama, a Matriz de Identidade emocional normal se estabelece a partir das relações que o indivíduo faz. Através de nossas vivências caminhamos de um momento de total Indiferenciação com o mundo (nascimento) para uma relação télica e plena onde seja possível trocar de lugar com o outro entendendo suas motivações pelos seus olhos (maturidade emocional), sem com isso, desrespeitar nossas crenças, valores, e individualidade. Moreno chamou o ápice dessa fase de Encontro, onde podemos “novamente”- lembrando nosso nascimento - nos misturar com o outro, sem nos perdermos – porque agora existe um eu delimitado - e sair revitalizados, enriquecidos. Seria o ponto máximo de diferenciação de identidade.

Cada pessoa tem suas motivações, resultado de sua história de vida e sua educação, somada às suas características inatas. A saúde emocional e mental de cada indivíduo é que determina como cada um vai suprir essas necessidades. Esta saúde interna se desenvolve como resultado de um processo de maturação do indivíduo, e obedece uma seqüência de desenvolvimento humano, segundo a teoria do desenvolvimento Moreniana.

Para nos envolvermos em qualquer tipo de relação, seja uma relação de amizade, profissional, amorosa ou simplesmente social, primeiro temos que conhecer nossa individualidade e o que significa um mínimo de noção de nossos desejos, características, medos, dificuldades e gostos; enfim, um pouco de nossa singularidade. Falei em mínimo, porque trata-se de uma busca de AUTOCONHECIMENTO que acontece durante nossa vida. Não acredito que alguém possa esgotar esse processo, porque somos seres dinâmicos e estamos aprendendo e consequentemente em transformação todo o tempo.

A maturidade enriquece e modifica.

Portanto para que você possa construir uma relação de intimidade com alguém deve estar atento a esse processo de busca de si mesmo, à sua capacidade para amar e principalmente, para sentir-se amado.

Sirley R.S. Bittú

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Decepção


Decepção

Certamente você já disse:
Caramba, que decepção... Jamais poderia esperar isso desta pessoa...


Na realidade, a pessoa em questão, a que causou a decepção, pode estar isenta de qualquer maldade pela sua atitude. O problema maior está em nossos valores e na forma de como queremos que as pessoas sejam ou nos vejam.

Primeiro vamos analisar a palavra decepção. Para mim ela é formada por decepa a ação. Eu quero vê-la assim; eu a sinto assim. Cada um pode encontrar a sua verdade na comunicação que faz com as pessoas. As palavras são verdadeiros torpedos de energia potencializadas pelo que estamos vivenciando e, portanto, sentindo naquele momento. Se a energia é boa a palavra fica suave. Se for ruim pode funcionar até como uma verdadeira pedrada.

Decepção, para mim, conforme frisei acima, determina o final de uma etapa ou da maneira de se ver a mesma coisa. Depois de muito estudar, eu fico com a segunda hipótese. Não é recomendável sofrer pelo que causamos a nós mesmos. A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.

Trata-se da quebra de um conceito criado pela nossa mente, invariavelmente não verdadeira. Fomos nós que construímos os valores e o rótulo que colocamos na outra pessoa. Foram nossos conceitos que pautaram o carinho, o amor e a amizade. Ninguém é igual a nós.

O outro só fez a parte dele. Na realidade a pessoa sempre foi o que está demonstrando naquele momento, mas éramos nós que não fazíamos a leitura correta de como ela realmente é em seu interior. As adversidades da vida nos mostram outras realidades com as quais não tínhamos contato.


Muitas vezes me decepcionei. Em algumas, fiquei irritado, mas não sabia ler a vida como sei hoje.

Lembro novamente do meu Mestre ND. Ele me disse:

(...) Você sofre porque espera demais das pessoas. Elas são elas com seus conceitos e valores, você é você. Cada ser humano é diferente e vê a vida com sua exclusiva evolução e entendimento. As verdades são singulares. Nas dificuldades as pessoas mudam. Nas festas são todos iguais. A música e o ambiente contribuem para a harmonia do local. As pessoas dão o que podem dar. Nós é que temos expectativas diferentes.

Enquanto você está lendo este texto certamente está analisando a sua vida e encontrando novamente os momentos que te magoaram profundamente, simplesmente porque a sua expectativa não foi recompensada conforme seu desejo.

Temos que analisar este ponto para nos policiarmos e nunca esperarmos das pessoas aquilo que elas não conseguem nos dar. Depois das várias lições e estudos que realizei, orientado pelo meu Mestre, pude perceber, acredite: era eu mesmo quem me feria. Nunca foram as pessoas. Elas, na realidade, nunca me prometeram nada. Eu é que esperava mais delas. Reconheço que foi uma batalha bonita entre meus conceitos passados, minha cegueira e a verdade que se pode encontrar em cada relação com o ser humano. Por isso nunca devemos considerar uma verdade como eterna. Ela simplesmente espelha um momento, uma fração de segundo. Depois tudo tende a se modificar porque as energias se transformam. Por isso o termo EVOLUIR.

Muitas pessoas apenas repetem-no, mas não entendem o real significado desta palavra. É crescer caminhando. Jamais crescer lendo. Jamais crescer sem atitudes. Só conhecimento não gera sabedoria.

Para que possamos efetivamente saber mais temos que ter conhecimento novo e aplicá-lo. Portanto, de hoje em diante, cabe a nós decidirmos se vamos ou não nos decepcionar com as pessoas no futuro.

Cada um dá o que tem... Claro que você já ouviu isso, mas nunca prestou a devida atenção na composição exata da frase. Primeiro porque, certamente, você confundiu o dar com algo material, pecuniário ou -mesmo-, até de sentimento. Mas, antes de sentir a gente quer ver.

Outra frase:

Ver para crer... Pense em tudo que está em sua, na minha, em nossa volta e irá perceber que muitas verdades estão escancaradas à nossa frente, mas insistimos em não vê-las simplesmente porque não conseguimos decifrar a verdade pelos conceitos ultrapassados que insistimos em adotar em nossas vidas. Nem tudo se pode ver. O que se sente sempre supera o que se vê. A decepção é uma delas.

Saul Brandalise Jr

domingo, 24 de janeiro de 2010

Você Sofre com a Falta de Atitude de Alguém?


Você sofre com a falta de atitude de alguém?

A maioria das queixas que recebo no consultório é sobre a decepção que as pessoas nos causam, principalmente nos relacionamentos afetivos, e todos buscam entender as possíveis causas. É claro que não podemos responder por ninguém, mas podemos refletir um pouco sobre o assunto.

Quantas vezes você esperou que alguém tivesse uma atitude numa determinada situação e se decepcionou porque a pessoa nada fez ou ainda, se fez, foi algo que estava longe do que esperava? Todos nós sabemos que criar expectativas é o melhor caminho para a decepção, mas qual de nós não espera ser reconhecido, valorizado, não só por aquilo que faz mas, principalmente, por aquilo que é? Sim, nós mesmos devemos nos aprovar, reconhecer e aceitar, mas há relação sem troca?

O ser humano precisa de quatro condições básicas para viver: atenção, admiração/reconhecimento, afeto/amor e aceitação. Ao recebermos isso daqueles que nos são caros e, especialmente, da pessoa amada, muitas de nossas necessidades emocionais são satisfeitas, mas se não recebemos, a tendência é nos sentirmos sem valor algum e, assim, tudo fica vazio, sem sentido de existir.

Claro que não podemos nem devemos colocar nosso valor -enquanto pessoa- nas mãos de alguém, mas quem não espera um abraço num momento de dor? Uma mão estendida, quando perdido? Uma palavra amiga quando nos sentimos fracos? Um singelo e simples obrigado por tudo que se fez pelo outro? Qualquer necessidade que temos, sobretudo nossas necessidades emocionais, quando não supridas, geram insatisfação, decepção, e alguns conflitos internos que nem sempre percebemos. E quando isso ocorre é inevitável que nos sintamos desamparados e totalmente perdidos.

O que mais queremos é que a pessoa que amamos esteja ao nosso lado, incondicionalmente, que chegue o mais perto possível daquilo que esperamos e sentimos em nosso coração, e quase sempre, suas atitudes, ou a falta delas, se fazem tão distantes de nós e daquilo que necessitamos, e neste momento constatamos uma cruel realidade: estamos sós! Sós na dor, no sofrimento, na busca por uma saída ou um caminho menos doloroso. Queremos alguém que nos salve! Nos tire desse lamaçal de sofrimento. Mas quem poderá fazer isso por nós?

Muitos de nós pedimos e esperamos tão pouco, que até esse pouco algumas pessoas são incapazes de nos dar: um abraço, uma atenção, uma palavra, carinho, compreensão, apoio, exatamente num determinado momento que mais precisamos.

E ao nos sentirmos sozinhos, literalmente abandonados, entramos em desespero e começamos a cobrar, alguns chegam a exigir aquilo que não estão recebendo, tornando o relacionamento insuportável para ambos.

Muitas vezes nos esquecemos que cada um dá aquilo que tem. Será que adianta pedir, implorar por algo que não veio espontaneamente? Algumas pessoas dizem amar e sequer percebem o pedido de socorro daqueles que gritam por amor e atenção. E esse grito pode se transformar em diversas formas de amenizar uma dor... seja comendo, bebendo, dormindo, trabalhando excessivamente, enfim, tentando fugir do que tanto dói. Tudo para preencher um vazio que nada parece conseguir ocupar.

Na verdade, quem não consegue se doar, ouvir o outro, é porque não consegue ouvir nem seu próprio sussurro numa noite silenciosa. Ignora o outro na mesma proporção que ignora a si mesmo. Algumas pessoas ao longo do tempo se tornam agressivas como uma forma, ainda que inconsciente, de se defenderem. Mesmo desejando uma palavra amiga, só sabem devolver agressão, talvez a mesma que receberam em algum momento de suas vidas, mas ninguém quer ser saco de pancadas de ninguém, não é mesmo?

Nem sempre o que se expressa em palavras representa o que é sentido verdadeiramente, mas como vamos diferenciar se o que foi dito é sincero ou e é apenas um desabado de dor? Só sabemos que nos machucam! Às vezes, machucam para sempre, por mais que se possa perdoar, a cicatriz permanecerá.

E assim, choramos, e em lágrimas acabamos por adoecer. Sentimos a dor em nossa alma e mesmo quando olhamos ao lado e vemos que há alguém, ainda nos sentimos completamente sozinhos, nos sentimos mais desvalorizados, menosprezados e, desta forma, mais machucados ficamos. Nos sentimos sós no amor que expressamos, na dor que sentimos. Sós na atenção esperada e no desprezo recebido.

Sofremos, sim, quando esperamos atenção que nunca recebemos, em palavras que nunca se transformam em atitudes que se concretizam. E passam minutos, horas, dias e meses que se transformam em anos e continuamos a permitir que nosso sofrimento se estenda. Por quê? Pela falta de atitude do outro? Não!

Sofremos pela nossa própria falta de atitude ao aceitarmos que tal situação se mantenha.

Sofremos quando somos rígidos e resistimos a mudar!

Sofremos quando não temos coragem de dizer basta!

Sofremos quando insistimos em manter um relacionamento por medo de ficarmos sós, mesmo quando já estamos sozinhos por anos.

Sofremos quando não nos sentimos amados, não recebemos atenção, não nos sentimos importantes, quando nossas necessidades e nossos sentimentos não são respeitados. Mas, com certeza, sofremos muito mais quando nos sentimos incapazes de dar tudo isso a nós mesmos, independente da situação externa.


Enquanto esperar que o outro enxugue suas lágrimas, venha salvá-lo (a), dê-lhe um abraço ou uma palavra de esperança, faça-o acreditar que você é importante... e por mais que espere, você nada recebe, pergunte-se: até quando?

Será que não está apenas estendendo seu sofrimento até um ponto em que não terá mais forças para sair de onde está neste momento? Será que a hora de reagir não é agora?

Converse com a pessoa que ama e se perceber que ela é incapaz de lhe dar o que tanto precisa, ao menos nesse momento, reavalie se alguém merece todo seu sofrimento, todas suas lágrimas, sem sequer se dar conta do quanto o(a) faz sofrer. O outro pode, se quiser, mudar, mas não podemos nos permitir sofrer tanto, dilacerar nossa alma por quem não percebe nosso real valor.

Olhe bem dentro de você e lembre de quantas situações difíceis já conseguiu superar. Essa mesma força ainda está dentro de você! Busque-a, ainda que esteja muito escondida no meio de tanta dor. Encontre sua força, sua coragem, determinação, esperança e faça algo por você, apenas e simplesmente por você! E o outro? Aprenda com tudo que lhe fez, ainda que no meio a tanta dor é possível sempre aprender e crescer! Considere sua realidade e não as ilusões que você criou em função de suas necessidades. Afinal, você quer crescer, ser feliz ou quer continuar chorando e esperando por aquilo que está tão distante do que você deseja para sua vida? Só você poderá responder! Mas lembre-se de que a atenção e o amor por si mesmo(a) só dependem de você!

Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Por Tudo Que Tens Passado Na Vida... EU TE COMPREENDO!


Por Tudo
Que Tens Passado Na Vida...
EU TE COMPREENDO!

Eu sei das tuas tensões, dos teus vazios e da tua inquietude. Eu sei da luta que tens travado à procura de paz. Sei também das tuas dificuldades para alcançá-la. Sei das tuas quedas, dos teus propósitos não cumpridos, das tuas vacilações e dos teus desânimos.

Eu te compreendo... Imagino o quanto tens tentado para resolver as tuas preocupações profissionais, familiares, afetivas, financeiras e sociais. Imagino que o mundo, de vez em quando, parece-te um grande peso que te sentes obrigado a carregar. E tantas vezes, sem medir esforços. Eu conheço as tuas dúvidas, as dúvidas da natureza humana.

Percebo como te sentes pequeno quando teus sonhos acalentados vão por terra, quando tuas expectativas não são correspondidas. E essas inseguranças com o amanhã? E aquela inquietação atroz em não saberes se amanhã as pessoas que hoje te rodeiam ainda estarão contigo? De não saberes se reconhecerão o teu trabalho, se reconhecerão o teu esforço. E, por tudo isto, sofres, e te sentes como um barco sozinho num mar imenso e agitado. E não ignoro que, muitas vezes, sentes uma profunda carência de amor. Quantas vezes pensaste em resolver definitivamente os teus conflitos no trabalho ou em casa. E nem sempre encontraste a receptividade esperada ou não tiveste força para encaminhar a tua proposta. Eu sei o quanto te dói os teus limites humanos e quanto, às vezes, te parece difícil uma harmonia íntima. E não poucas vezes, a descrença toma conta do teu coração.

Eu te compreendo... Compreendo até tuas mágoas, a tristeza pelo que te fizeram, a tristeza pela incompreensão que te dispensaram, pelas ingratidões, pelas ofensas, pela palavras rudes que recebeste. Compreendo até as tuas saudades e lembranças. Saudade daqueles que se afastaram de ti, saudade dos teus tempos felizes, saudade daquilo que não volta nunca mais... E os teus medos? Medo de perderes o que possuis, medo de não seres bom para aqueles que te cercam, medo de não agradares devidamente às pessoas, medo de não dares conta, medo de que descubram o teu íntimo, medo de que alguém descubra as tuas verdades e as tuas mentiras, medo de não conseguires realizar o que planejaste, medo de expressares os teus sentimentos, medo de que te interpretem mal.

Eu compreendo... Esses e todos os outros medos que tens dentro de ti. Sou capaz de entender também os teus remorsos, as faltas que cometeste, o sentimento de culpa pelos pequenos ou grandes erros que praticaste na tua vida. E sei que, por causa de tudo isso, às vezes te encontras num profundo sentimento de solidão. É quando as coisas perdem a cor, perdem o gosto, e te vês envolto numa fina camada de indiferença pela vida. Refiro-me àquela tua sensação de isolamento, como se o mundo inteiro fosse indiferente às tuas necessidades e ao teu cansaço. E nesse estado, és envolvido pelo tédio e cada ação ou obrigação exige de ti um grande esforço. Sei até das tuas sensações de estares acorrentado, preso; preso às normas, aos padrões estabelecidos, às rotineiras obrigações: "Eu gostaria de... mas eu tenho que trabalhar, tenho que ajudar, tenho que cuidar de, tenho que resolver, tenho que...".

Eu te compreendendo... Compreendo os teus sacrifícios. E a quantas coisas tens renunciado, de quantos anseios tens aberto mão!... E sempre acham que é pouco... Pouca coisa tens feito por ti e tua vida, quase toda ela, tem sido afinal dedicada a satisfazer outras pessoas. Sei do teu esforço em ajudar às outras pessoas e sei que isso é a semente de tuas decepções. Sei que, nas tuas horas mais amargas, até a revolta aflora em teu coração. Revolta com a injustiça do mundo, revolta com a fome, as guerras, a competição entre os homens, com a loucura dos que detêm o poder, com a falsidade de muitos, com a repressão social e com a desonestidade.

Por tudo isso, carregas um grau excessivo de tensões, de angústia e de ansiedade. Sonhas com uma vida melhor, mais calma, mais significativa. Sei também que tens belos planos para o amanhã. Sei que queres apenas um pouco de segurança, seja financeira ou emocional, e sei que lutas por ela. Mas, mesmo assim, tuas tensões continuam presentes. E tu percebes estas tensões nas tuas insônias ou no sono excessivo, na ausência de fome ou na fome excessiva, na ausência de desejo para o sexo ou no desejo sexual excessivo. O fato é que carregas e acumulas tensões sobre tensões: tensões no trabalho, nas exigências e autoritarismos de alguns, nas condições inadequadas de salário e na inexistência de motivação, nos ambientes tóxicos das empresas, na inveja dos colegas, no que dizem por trás. Tensões na família, nas dependências devoradoras dos que habitam a mesma casa; nos conflitos e brigas constantes, onde todos querem ter razão; no desrespeito à tua individualidade, no controle e cobrança das tuas ações.

Eu te compreendo, e te compreendo mesmo.
E apesar de compreender-te totalmente, quero dizer-te algo muito importante.
Escuta agora com o coração o que te vou dizer:

Eu te compreendo, mas não te apóio! Tu és o único responsável por todos estes sentimentos. A vida te foi dada de graça e existem em ti remédios para todos os teus males. Se, no entanto, preferes a autocomiseração ao invés de mobilizares as tuas energias interiores, então nada posso te oferecer. Se preferes sonhar com um mundo perfeito, ao invés de te defrontares com os limites de um mundo falho e humano, nada posso te oferecer. Se preferes lamentar o teu passado e encontrar nele desculpas para a tua falta de vontade de crescer; se optaste por tentar controlar o futuro, o que jamais controlarás com todas as suas incertezas; se resolveste responsabilizar as pessoas que te rodeiam pela tua incompetência em tratar com os aspectos negativos delas, em nada posso te ajudar. Se trocaste o auto-apoio pelo apoio e reconhecimento do teu ambiente, então nada posso te oferecer. Se queres ter razão em tudo que pensas; se queres obter piedade pelo que sentes; se queres a aprovação integral em tudo que fazes; se escolheste abrir mão da tua própria vida, em nome do falso amor, para comprares o reconhecimento dos outros, através de renúncias e sacrifícios, nada posso te oferecer. Se entendeste mal a regra máxima "Amar ao próximo como a ti mesmo", esquecendo-te de amar a ti mesmo, em nada posso te ajudar.

Se não tens um mínimo de coragem para estar com teus próprios sentimentos, sejam agradáveis ou dolorosos; se não tens um mínimo de humildade para te perdoares pelas tuas imperfeições; se desejas impressionar os outros e angariar a simpatia para teus sofrimentos; se não sabes pedir ajuda e aprender com os que sabem mais do que tu; se preferes sonhar, ao invés de viver, ignorando que a vida é feita de altos e baixos, nada posso te oferecer. Se achas que pelo teu desespero as coisas acontecerão magicamente; se usas a imperfeição do mundo para justificar as tuas próprias imperfeições; se queres ser onipotente, quando de fato és simplesmente humano; se preferes proteção à tua própria liberdade; se interiorizaste em ti desejos torturadores; se deixaste imprimirem-se em tua mente venenosas ordens de: "Apressa-te!", "Não erres nunca!", "Agrada sempre!"; se escolheste atender às expectativas de todas as pessoas; se és incapaz de dar um "Não!" quando necessário, em nada posso te ajudar. Se pensas ser possível controlar o que os outros pensam de ti; se pensas ser possível controlar o que os outros sentem a teu respeito; se pensas ser possível controlar o que os outros fazem; se queres acreditar que existe segurança fora de ti, repito: Eu te compreendo mas, em nome do verdadeiro amor, jamais poderia apoiar-te!

Se aspiras obter proteção quando o que precisas é liberdade; se não descobriste que a verdadeira liberdade e a autêntica segurança são interiores; se não sabes transformar a frase "Eu tenho que..." na frase "Eu quero!"; se queres que o fantasma do passado continue a fechar teus olhos para a infinidade do teu aqui e agora; se queres deixar que o fantasma do futuro te coloque em posição de luta com o que ainda não aconteceu e, provavelmente, não chegará a acontecer; se optaste por tratar a ti mesmo como a um inimigo; se te falta capacidade para ver a ti mesmo como alguém que merece da tua própria parte os maiores cuidados e a maior ternura; se desejas usar teus belos planos de mudar, de crescer, de realizar, como instrumentos de auto-tortura; se achas que é amor o apego que cultivas pelos teus parentes e amigos; se queres ignorar, em nome da seriedade e da responsabilidade, a criança brincalhona que habita em ti; se alimentas a vergonha de te enternecer diante de uma flor ou de um por de Sol; se através da lamentação recusas a vida como dádiva e como graça, não posso te apoiar.

Mas, se apesar de todo o sono, queres despertar; se apesar de todo o cansaço, queres caminhar; se apesar de todo o medo, queres tentar; se apesar de toda acomodação e descrença, queres mudar, aceita então esta proposta para a tua felicidade: a raiz de todas as tuas dificuldades são teus pensamentos negativos. São eles que te levam para as dores das lembranças do passado e para a inquietação do futuro. São esses pensamentos que te afastam da experiência de contato com teu próprio corpo, com o teu presente, com o teu aqui e agora e, portanto, distanciando-te de teu próprio coração.

Tens presentes agora as tuas emoções? Tens presente agora o fluxo da tua respiração? Tens presente agora a batida do teu coração? Tens agora a consciência do teu próprio corpo? Este é o passo primordial. Teu corpo é concreto, real, presente, e é nele que o sofrimento deságua e é a partir dele que se inicia a caminhada para a alegria. Somente através dele se encaminha o retorno à paz

Jamais resolverás os teus problemas somente pensando neles. Começa do mais próximo, começa pelo corpo. Através dele chegarás ao teu centro, ao teu vazio, àquele lugar onde a semente germina. Através da consciência corporal, galgarás caminhos jamais vistos, entrarás em contato com os teus sentimentos, perceberás o mundo tal como é e agirás de acordo com a naturalidade da vida. Assume o teu corpo e os teus sentimentos, por mais dolorosos que sejam; assume e observa-os, simplesmente observa-os. Não tentes mudar nada, sê apenas a tua dor. Presta atenção, não negues a tua dor. Para que fingir estar alegre se estás triste? Para que fingir coragem se estás com medo? Para que fingir amor se estás com ódio? Para que fingir paz se estás angustiado? Não lutes contra teus sentimentos, fica do teu próprio lado, deixa a dor acontecer, como deixas acontecer os bons momentos. Pára, deixa que as coisas sejam exatamente como são. Entra nos teus sentimentos sem os julgar, não fujas deles, não os evites, não queira resolvê-los escapando deles - depois terás de te encontrar com eles novamente, é apenas um adiamento, uma prorrogação. Torna-te presente, por mais que te doa. E, se assim fizeres, algo de muito belo acontecerá!

Assim como a noite veio, ela também se irá e então testemunharás o nascer do dia, pois à noite o Sol escurece até a meia-noite e, a partir daí, começa um novo dia. Se assim fizeres, sentirás brotar de dentro de ti uma força que desconhecias e te sentirás renovado na esperança e a vida entrando em ti. Se assim fizeres, entenderás com o coração que a semente morre antes de germinar e que a morte antecede a vida.

E, se assim fizeres, poderei dizer-te então que: Eu te compreendo e que, assim, tens todo o meu apoio! E verás com muita alegria que, justamente agora, já não precisas mais do meu apoio, pois o foste buscar dentro de ti e o encontraste dentro da tua própria dor.

Antônio Roberto Soares