segunda-feira, 4 de maio de 2009

Quem Perdoa... Lembra

Quem Perdoa... Lembra

"...perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido..." Parte da Oração do Pai Nosso ensinada por Jesus a Seus discípulos. Mat. 6:12.

O conceito popular de perdão afirma que quem perdoa, esquece. Entretanto, penso que para existir perdão genuíno é preciso primeiro lembrar do que houve para depois esquecer. Como é isso? Deixa-me tentar explicar.

Alguém feriu você quebrando e prejudicando o bom relacionamento que havia antes. Se já não era bom, piorou. Se você mantiver a raiva pela pessoa, será prejudicial para sua saúde, porque você terá perdido a serenidade. Se fingir que está tudo bem, não será verdade, o que também é ruim para sua saúde. Sem verdade não há cura.

Pessoas muito dependentes quando feridas pelos outros, fingem que está tudo bem porque sentem que não podem viver sem a aprovação alheia. Então, elas podem dizer que perdoou, quando mantêm a mágoa em seu interior. Não sabem que sabem que ainda não perdoaram. Ou seja, jogam em baixo do tapete da consciência a percepção da verdade emocional pessoal que diz: "Ainda sinto raiva do que aquela pessoa fez comigo." Então, para perdoar, elas precisarão lembrar primeiro. Lembrar o quê? Do que houve, da dor, da tristeza pelo que ocorreu ao ter sido ferida. E lembrar pode doer e muito. Mas é preciso sentir a dor original para que ela possa ir embora.

Daí eu dizer que quem perdoa, lembra. Lembra, vive a dor, expressa adequadamente seu pesar, chora, dorme mal algumas noites talvez, perde o apetite ou come demais por um tempo, se entristece. Isto é normal. Depois passa. Se você perdoa.

Um extremo de conduta é ficar focado nas próprias falhas e não viver a dor causada por erros dos outros. É como atacar a si mesmo o tempo todo dizendo: "Por que não pensei antes?", ou "Por que fui confiar tanto?", ou "Por que não coloquei limites?", etc.

Outro extremo é focar demais nas formas como se tem sido maltratado e usá-las como desculpa para manter um comportamento ruim. Ambos extremos de conduta devido à abusos sofridos prejudicam a recuperação emocional pessoal. O que ajuda?

"Ser perdoado pelos erros que temos cometido contra outros não nos desculpa de nossas ações nem faz nossas ações corretas. Quando perdoamos outros pelos erros que eles têm cometido contra nós, não os desculpamos pelo que eles têm feito. Simplesmente reconhecemos que temos sido feridos injustamente e entregamos o assunto a Deus." (The Life Recovery Bible, Tyndale, p.1121).

No processo de perdão genuíno não devemos dizer à pessoa que nos feriu: "Tudo bem! Não foi nada! Não me importo! Deixa prá lá!". Não está tudo bem, foi algo que machucou, importa sim, doeu demais. Você pode e deve falar como doeu (dói) para a pessoa, se isto couber, e deixe o assunto nas mãos do Deus de sua concepção.

Viva a dor. Fale dela com alguém confiável. E deixe-a ir embora. Daí você poderá estar pronto para perdoar. Porque ao perdoar você se livrará do fardo da ira, do ressentimento, da mágoa. Estará livre. Readquirirá a serenidade. O resto é com a pessoa e com Deus. Se você perdoar, será também perdoado. Uma vez que não somos perfeitos, todos precisamos de perdão. Será que você merece perder a paz interior por causa dos erros dos outros? Lembre, perdoe e ... esqueça.

Cesar Vasconcellos de Souza - psiquiatra e psicoterapeuta
Atualmente no Fellowship Physician Program - WILDWOOD LIFESTYLE CENTER AND HOSPITAL -Estados Unidos

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