quarta-feira, 21 de julho de 2010

Por Que Felicidade Só Existe No Momento Presente


Por Que Felicidade Só Existe No Momento Presente

"Apegar-se a momentos felizes, ou ficar preso a momentos dolorosos do seu passado somente limita as suas oportunidades de ser plenamente feliz no presente.

Ninguém além de você é responsável por sua felicidade. Outras pessoas podem colaborar, mas ninguém pode ser feliz por você.

Caminhe mais leve pela vida. Na bagagem, traga somente o necessário, as coisas que ajudam a viver e a construir as condições para ser feliz. As coisas passam, o tempo passa, mas você não passa... Invista em você e em sua felicidade.

Felicidade não é possuir tudo o que você deseja, mas aprender a amar tudo o que você possui. Para ser feliz você precisa somente de três coisas: amar o que você faz, sentir sua importância e a dos outros no cenário da vida e uma forte atitude para tornar as coisas que estão ao seu alcance melhores do que elas eram antes da sua chegada"

Felicidade é um estado de espírito presente. Não podemos ser felizes no passado, porque o passado é apenas uma lembrança, tampouco podemos ser felizes no futuro porque o futuro é apenas uma promessa. Felicidade é algo que acontece em um tempo chamado agora!

O tempo não é o mover dos ponteiros do relógio, mas sim como nós percebemos, vivemos e sentimos este intervalo. O tempo medido é diferente do tempo vivido!

Já notou que há meses que passam depressa e outros que demoram a passar? Anos que voam e outros que “engatinham”? E no final acabamos sempre declarando:

– “... não tive tempo para nada!”.

Ficamos tão envolvidos com as dificuldades que não sobra tempo para sermos felizes. O problema não é o tempo, somos nós. Excesso de tempo medido para pouco tempo efetivamente vivido!

Ficamos vítimas da sucessão de fatos cotidianos, de uma rotina que passa a ser automaticamente repetida, sem que tenhamos consciência dela. Vivemos cada dia como quem troca a marcha do carro, num verdadeiro automatismo. E, depois... quando olhamos para trás, vemos que muito tempo se passou e muito pouco se realizou; o tempo medido é enorme, mas o vivido é muito pequeno.

Sejamos sinceros, estamos de fato vivendo ou só medindo o tempo?

O tempo é um só. Nossas referências e vínculos emocionais com ele é que mudam: nossas lembranças são o passado, nossas oportunidades são o presente e nossas esperanças são o futuro.

Quando dizemos que estamos sem tempo para ser feliz, isto é uma declaração de que fomos engolidos pelo dia-a-dia e pelos problemas não resolvidos. Deixamos de respirar o ar da alegria e de colher as flores do jardim do hoje.

Fugir para as lembranças é uma de nossas principais fraquezas. Nada garante que nossas lembranças felizes (ou não) vão se repetir. Não é porque algo deu certo de determinada maneira, em determinada época, que dará certo de novo em outra época, sob novas condições.

Apegar-se a momentos felizes, ou ficar preso a momentos dolorosos do seu passado somente limita as suas oportunidades de ser plenamente feliz no presente.

Ninguém além de você é responsável por sua felicidade. Outras pessoas podem colaborar, mas ninguém pode ser feliz por você.

Este momento maravilhoso chamado agora tem o poder de construir o futuro que você deseja e também de reverter ou anular os efeitos negativos dos seus equívocos do passado.

Um simples pedido de desculpas feito agora pode eliminar todo um passado de tristezas e mágoas.

Um ser humano fantástico com uma missão muito nobre, chamado Paramahansa Yogananda (um iogue) escreveu as seguintes linhas:

“Viva completamente cada momento presente e o futuro tomará conta de si mesmo. Viva intensamente o maravilhoso, o belo de cada instante. Pratique a presença da paz. Quanto mais você fizer isso, mais sentirá a presença desse poder em sua vida.”

Quando estamos dirigindo numa auto-estrada, nossa meta está à nossa frente, temos que nos preocupar com o pedaço de pista que estamos cruzando; uma distração e podemos não chegar ao nosso destino. É claro que uma ou outra olhada no retrovisor é necessária, mas fixar-se nele e tentar dirigir para frente olhando para trás é no mínimo, imprudente.

Por falar em retrovisor, é comum a frustração que a maioria de nós experimenta ao olhar para o passado, aquele algo que fizemos ou deixamos de fazer. Lembre que a cada dia, a vida nos oferece uma página em branco para que, de próprio punho, possamos escrever a nossa própria história.

O que você escreveu hoje? Você está disposto a assinar o que está escrevendo?

No futuro você estará olhando para esta “página” pelo retrovisor do tempo... Será que você irá constatar que dedicou tempo para ser feliz?

Use seu tempo em favor da vida. Não perca tempo com reclamações, mágoas, sentimentos de inferioridade, baixa auto-estima, preconceitos e atitudes de autodestruição. Isto é uma forma lenta de suicídio. Fazendo isso você está se matando aos poucos. Primeiro morrem seus sonhos, depois a sua motivação, depois a sua atitude e assim dia-a-dia você vai destruindo suas possibilidades de ser feliz.

Dedique-se a ter tempo para ser feliz. Liberte-se! Caminhe mais leve pela vida. Na bagagem, traga somente o necessário, as coisas que ajudam a viver e a construir as condições para ser feliz. As coisas passam, o tempo passa, mas você não passa... Invista em você e em sua felicidade.

Felicidade não é possuir tudo o que você deseja, mas aprender a amar tudo o que você possui. Para ser feliz você precisa somente de três coisas: amar o que você faz, sentir sua importância e a dos outros no cenário da vida e uma forte atitude para tornar as coisas que estão ao seu alcance melhores do que elas eram antes da sua chegada.

Felicidade é uma porta que se abre de dentro para fora. Ao abrir esta porta, o que você tanto espera poderá, finalmente, entrar!

Carlos Hilsdorf

domingo, 18 de julho de 2010

Saudade Sem Dor


Saudade Sem Dor

Procuro, faz tempo, entender o real significado de ‘saudades’. Quais as razões implícitas no conteúdo desta palavra que é tão singular em nosso vocabulário? A pergunta ficou no ar por muito tempo.

O uso da meditação ajudou-me na primeira grande descoberta, quando percebi que saudade deve ser diferente do sentimento de ausência.

Confesso que para mim tudo o que se encaixava no conceito de falta significava saudade. Grande equívoco, não é verdade?

Hoje sei exatamente que ausência é a falta que jamais será preenchida, enquanto saudade é a lembrança de algo ou alguém que marcou muito nossas vidas e que poderá vir a se repetir.

Diante disso, desta descoberta, jamais senti, novamente, a saudade que dói; muito menos, permiti-me sentir a ausência de alguém.

Meu Mestre me ensinou que a ausência tem origem no apego. A matéria é apego. O sentimento é saudade.

Apego gera dependência e falta de iniciativa. Vários e-mails que recebo demonstram que as pessoas não sabem conviver com o apego, que deve conter uma dose consistente de dependência.

Nossa felicidade jamais pode estar vinculada às pessoas que nos cercam, porque cada uma vê e sente a vida pela ótica de sua evolução. Somos nós a projetar nos outros o que esperamos que eles sejam. E isso é um grande equívoco.

Os valores são individuais e ninguém consegue sentir a mesma coisa que o outro, embora estejam vendo, vivendo, ou convivendo, com o mesmo cenário.

Não há, portanto, regra que possa ser aplicada para se gerar a própria felicidade. Como também não existe forma de se explicar a diferença entre saudade e apego. Temos que descobrir, com esforço próprio, esta diferença, sentindo. Para sentir é preciso isolar a matéria envolta no caso e simplesmente deixar que a emoção aflore, sem forma e sem tempo.

Forma e tempo são matéria. Na essência do Universo o tempo não conta. Quer um exemplo? Quando você está absolutamente feliz com a companhia de alguém, o passar do tempo é percebido? Não, né? Pois é. Fora deste planeta não há tempo. Não temos necessidade de dormir. Dormir é físico. Não somos humanos, simplesmente estamos humanos. Não há apego... Somos felizes.

Do meu passado só admito sentir saudades. Quando percebo que é apego, procuro execrar o sentimento. Do meu passado elimino todos os cenários que contemplam as dores. Elas são um fardo muito pesado para ser carregado no presente. Elas, as dores, contaminam o meu futuro. Não há como projetar uma boa vida se o passado negativo a contamina.

A morte ensina a dor do apego.
Se seu apego tem dependência, elimine-o.
Se sua saudade tem dor, elimine-a.
Se sua vida não tem saudades, crie-as.
Viver sem este sentimento é o mesmo que cozinhar sem sal... O sabor vai embora.
O amor ensina a dor da saudade.
Viver sem o passado ensina a crescer.

Como você vai viver? A escolha é sua. Suas colheitas atuais dependem de suas decisões tomadas no passado. Não se irrite, nem se culpe, só mude conceitos e valores. Culpa e irritação criam doenças no corpo físico. Agindo assim irá alterar o fluxo de seus pensamentos e atitudes. Obviamente será a seu favor.

Saul Brandalise Jr. - Pesquisador da Vida Inka / Autor do livro: O Despertar da Consciência

terça-feira, 13 de julho de 2010

Solidão, A Dor Que Nos Isola


Solidão, A Dor Que Nos Isola

Solidão, dor sofrida, que nos leva a viver à parte de situações que gostaríamos de participar. Para quem sofre desse mal, compartilhar uma relação, um grupo de amigos, uma família, de si mesmo ou da vida é algo difícil e leva a um isolamento que só intensifica a dor.

Acredito que a rejeição por nós mesmos em primeiro lugar, nos faz fugir de tudo o mais. Projetamos esse sentimento nos outros, e assim nos sentimos rejeitados e inadequados por conta de uma insegurança que é nossa, que nem sempre reconhecemos. O solitário sofre porque no fundo ele não quer estar só, ele quer participar, quer se envolver, quer brincar mas não consegue. Ele coloca uma barreira que o isola dos outros, e muitas vezes é tão forte que o leva a depressão. Essa barreira é a rejeição, o medo do julgamento e a intolerância às pessoas, que de alguma forma o ameaçam.

Mas há pessoas que fazem tudo para não ficarem sós. Mantêm a casa cheia de gente, estão sempre buscando festas, passeios e companhia. Só que nem sempre gostam verdadeiramente de tudo isso, apenas o medo da solidão é maior. Elas fogem de qualquer possibilidade de estarem consigo mesmas, não toleram a sua própria companhia. Inclusive há casais assim, que não se bastam, não suportam a possibilidade de ficarem sós, porque temem ter que encarar insatisfações, às quais fogem a todo custo. Mas aquele que está bem, sabe curtir momentos a sós com alegria, assim como, sabe também, curtir as pessoas amando-as e aceitando-as.

Temos medo de passar as nossas vidas sozinhos, sem amar, sem ser amados, sem amigos, portanto nos sentindo solitários e tristes e é natural esse receio, uma vez que somos seres gregários. Mas porque temos tanto medo da solidão? Aquilo que tememos hoje, é porque já o vivemos em vidas pretéritas e potencializamos na nossa infância, portanto trazer essas emoções à tona, com certeza nos ajudará muito para a solução do problema em questão, mas também, é necessário entendermos porque não conseguimos amar. Quem sabe amar, jamais é solitário ou tem medo da solidão.

Assim, a solidão também surge, porque não gostamos das pessoas. O outro tem sempre um defeito que nos incomoda, ele não é como desejamos, e assim se relacionar torna-se um peso. Muitas vezes nos sentimos superiores, ninguém é suficientemente bom para gostarmos ou estar ao nosso lado, e portanto, não temos o que conversar ou trocar. Em outras situações, temos tanto medo de ser rejeitados, que rejeitamos antes, para não corrermos o risco. Achamos as pessoas falsas, mentirosas, traidoras e então preferimos ficar sós, porque não vale à pena nos relacionar com pessoas assim. Pensamos: não dá para contar com ninguém! Portanto, é melhor nos acostumarmos sozinhos. A lista para não nos relacionarmos pode ser longa e isso indica somente uma coisa: não amamos as pessoas e conseqüentemente não vamos gostar de estar com elas, e assim possivelmente, a solidão fará parte da nossa vida. É claro que, se temos respeito por nós mesmos não nos permitiremos viver uma relação que nos traga dor e sofrimento, mas também, não é possível que rotulemos todas as pessoas igualmente.

Mas o que impede de amarmos uns aos outros? A falta de amor por nós mesmos. Alguém que não se gosta, rejeita-se, não tem como gostar de ninguém. Amar implica em aceitação e compreensão. O outro é imperfeito como nós, os defeitos que nos incomodam tanto, também os temos, só não queremos enxergar. Se somos intolerantes com os outros, estamos abrindo espaço para que também sejam conosco. Recebemos sempre o que plantamos. Geralmente o nosso ar de superioridade está camuflando insegurança e inadequação, não somos melhores do que ninguém. Estamos todos num processo de evolução, em que alguns estão mais adiantados do que outros, mas todos chegarão ao mesmo lugar, cada um no seu ritmo, no seu jeito, no seu tempo, no seu caminho.

A solidão também nos faz sofrer, porque desejamos viver o prazer de compartilhar, de nos sentir importantes para alguém. Acontece muitas vezes de perdermos o nosso companheiro já na meia idade e a solidão surge com toda a sua força, mas se observarmos bem, veremos que ela já estava presente esperando o momento de ser percebida, mas não devemos negá-la, e sim buscar as causas subjacentes. É importante também entendermos que somos maiores do que ela, e portanto, não podemos permitir que nos impeça de viver as belas oportunidades que a vida sempre nos traz. Todos nós temos talentos, quem sabe um sonho ainda não realizado e por que não, colocá-lo em prática, mesmo que estejamos sozinhos? Nunca é tarde para aprendermos a amar a nossa companhia e a nos divertir. Quando nos amamos, irradiamos esse amor que naturalmente tocará o coração de alguém e a solidão deixará de fazer parte da nossa vida, porque o AMOR é que fará parte dela.

Cristina Azeredo

quinta-feira, 8 de julho de 2010

É Possível Encontrar Um Sentido Maior Para As Nossas Vidas?


É Possível Encontrar Um Sentido Maior Para As Nossas Vidas?

"Na falta de um sentido maior para a existência, nos perdemos pela vida, acreditando que o que falta é um emprego melhor, um namorado, uma casa nova, ou seja o que for. Tentamos curar uma dor profunda na nossa alma com comprimidos para dor de cabeça. Claro que não funciona!" Eu tenho ouvido muitas pessoas descreverem a angústia que vem sentindo por não encontrar algo que dê sentido às suas vidas. Já sabemos que falta algo, mas ainda não sabemos o que é, onde está, ou como suprir a falta. Eu diria, a quem anda se sentindo assim:

- Pare de tentar desesperadamente fazer essa angústia passar. Aceite esse incômodo como se ele fosse uma forma da sua alma despertar você desse estado de dormência que acomete o homem moderno. Aceite que você está perdido e mude o foco. Não saia andando em qualquer direção como alguém perdido na selva que é tomado pelo desespero. As respostas estão dentro de você. Acalme-se, aquiete seus pensamentos, busque seu centro, observe tudo ao seu redor, as pistas estão aí, perto de você, dentro de você. Quanto mais desesperado você estiver, menos irá percebê-las. Aquiete-se, confie, sossegue...

Quando eu era pequena, gostava de brincar de tentar parar de pensar. Você já tentou fazer isso? Já tentou atravessar aquela vasta correnteza de pensamentos e ver o que existe lá atrás? Já sentiu, nem que por um breve segundo, a cor pacífica e azulada do silêncio, que existe naquele lugar onde não existem pensamentos?

Se tentou, sabe que não é fácil. É como tentar ler o jornal em um dia de vento forte. É possível que a gente acabe mais estressado do que bem informado! No entanto, precisamos aprender a fazer isso se quisermos encontrar o sentido maior, precisamos ser capazes de atravessar os pensamentos se quisermos chegar ao lugar de sabedoria que todos temos dentro de nós. Para chegar lá precisamos, antes de mais nada, desenvolver a nossa paciência. E exercitar a humildade para aprender algo que, ao menos no Ocidente, não é assim tão fácil de aprender.

Quando nos encaminhamos em direção ao novo de forma humilde, aceitamos que teremos dificuldades e não permitimos que os obstáculos se tornem fontes de frustração ou nos impeçam de seguir adiante. A humildade nos faz compreender que é natural que existam as dificuldades, e nos permite continuar lá o tempo necessário para que consigamos seguir em frente. Ou seja, qualquer novo aprendizado requer persistência, tenacidade e o nosso desejo real de seguir adiante.

Mais do que nunca eu creio que a maior parte dos problemas que vivemos em nosso cotidiano é reflexo de uma dor mais profunda, de feridas existenciais, de coisas que se passam lá dentro de nós, nas profundezas. Mas como só olhamos para fora, deixamos escapar o primordial e nos afastamos da possibilidade de solucionar o que de fato nos atormenta.

Na falta de um sentido maior para a existência, nos perdemos pela vida, acreditando que o que falta é um emprego melhor, um namorado, uma casa nova, ou seja o que for. Tentamos curar uma dor profunda na nossa alma com comprimidos para dor de cabeça. Claro que não funciona!

Para enxergar o que de fato está acontecendo conosco, é preciso que a gente pare um pouco e aprenda a olhar para dentro. Disso já sabemos. Mas o que acontece é que, quando finalmente decidimos nos arriscar e nos voltamos para nosso interior, nos deparamos com uma mente tão caótica que preferimos enfrentar o caos do trânsito até o shopping mais próximo, em busca de amortecer essa enorme falta de sentido que tanto nos atormenta.

Assim, não se assuste se seu mundo interno parecer confuso demais ou desgovernado. Vá em sua direção assim mesmo. Abra todos os seus canais de percepção. Preste mais atenção, em você mesmo, em tudo à sua volta, sem pressa, sem tentar organizar o caos, contendo a ansiedade.

Respire fundo e sinta isso, afinal você está vivo e a vida é uma dádiva, algo maravilhoso, acontecendo agora mesmo. Agora mesmo você está respirando, sinta isso. Comece por aí. Tente amar o fato de que você é capaz de respirar. Una-se à sua respiração, à vida que flui em você... se conseguir fazer isso, já terá um ótimo começo.

O sentido da sua vida não é algo que ninguém possa dar ou explicar a você, mas é algo que pode subitamente desabrochar no seu ser, com a mesma gentileza com que as flores desabrocham na primavera, revelando seu aroma, sua cor e sua profunda beleza. Não se esforce, apenas conecte-se com sua natureza interna.

O que você busca está aí, agora mesmo. Pare um pouco com a caminhada, sente-se, relaxe e simplesmente seja você.

Patricia Gebrim

sábado, 3 de julho de 2010

Confiar Sem Se Machucar?


Confiar Sem Se Machucar?

Quase sempre criamos expectativas em nossas relações pessoais, afetivas, familiares. Confiamos, acreditamos, gostamos e muitas vezes nos decepcionamos e nos machucamos. Criamos ilusões diante de quem conhecemos e quando estes têm comportamentos inesperados, o chão de nossa segurança desaparece e nos sentimos ameaçados. Quando isso acontece, muitas vezes custamos a acreditar nos fatos, apesar deles serem reais e estarem à nossa frente. Como defesa para não sentirmos a dor, negamos, fugimos, mas logo a mágoa volta para nos lembrar que fomos enganados, traídos.

Muitas vezes, dependendo do grau do envolvimento, acabamos por confundir a realidade com nossas necessidades e vemos o outro como desejamos que fosse e não como ele se apresenta. Ou seja, com muita facilidade confundimos ideal com real. Claro que outras vezes, o outro faz de tudo para acreditarmos que ele seja como anjo, mas com o tempo percebemos que estava muito distante disso.

Os principais responsáveis por nossas desilusões somos nós mesmos, pois idealizamos a outra pessoa e, ainda que inconscientemente, projetamos nela a responsabilidade de satisfazer nossas necessidades. Assim, perdemos a capacidade de discernir a realidade da necessidade e a própria responsabilidade de suprirmos nossas carências.

Se reparar melhor e voltar um pouco ao passado, talvez perceba que foi enganado, na verdade, por ignorar sua intuição, sua voz interior, que quase sempre diz: não vai dar certo, não confie, não vá adiante. Ignoramos nossos valores como se não fosse correto confiar em nossa própria voz. E aí nos enganamos e nos machucamos.

Isso quer dizer que não devemos acreditar nas pessoas? Devemos acreditar acima de tudo em nós mesmos, e muitas pessoas confiam mais em outras pessoas do que em si próprias e esse não é o melhor caminho. O que devemos evitar é colocar todo nosso referencial de vida e valores no outro, deixar de viver a própria vida e viver a vida do outro. Não podemos perder nosso referencial interno, pois ao mantermos nossas referências, ficará mais difícil alguém nos decepcionar a ponto de nos perdermos de nós mesmos.

Algumas pessoas sofrem demais, porque na verdade, esperam demais, ou ao menos, esperam que o outro tenha respeito e valores semelhantes aos seus, o que nem sempre acontece. Confiar em alguém nos dias de hoje é algo muito delicado. Se você se considera uma vítima constante de pessoas assim, não será hora de parar um pouco e repensar sobre seus próprios valores e a forma de conduzir a própria vida? Ou ainda, não confiar tanto assim? Você pode sofrer por ter sido enganado, mas sofrerá muito mais por ter se deixado enganar. De nada adiantará ficar revoltado, brigar com o mundo, achar que não se deve mais acreditar no ser humano. Mas talvez seja importante para você acreditar acima de tudo em você mesmo.

Lembre-se que quem engana ao outro, na verdade, está enganando e fugindo de si próprio. Ou seja, quem brinca com os sentimentos de alguém, quem machuca o outro, está desrespeitando antes de tudo a si mesmo, escondendo-se atrás de máscaras por não conseguir suportar seus intensos conflitos internos. Parece que pessoas assim se esquecem que com o tempo as conseqüências podem se inverter, tendo efeito bumerangue: vai e volta. Estão tão atentas como lesar ou prejudicar o outro que nem conseguem perceber o mal que estão causando a si mesmas e nem se dão chance de descobrirem que podem ser muito felizes sem ser preciso machucar alguém.

Em qualquer relacionamento, e independente do tempo que se mantenha, podemos ouvir o que nos dizem, entender o que pensam, ou melhor, dizem pensar, mas dificilmente saberemos o que realmente sentem. Se até nossos próprios sentimentos nos fogem ao controle, imagine o que o outro sente. Amizade, cumplicidade, ética, responsabilidade, comprometimento, respeito, são valores hoje muito difíceis de serem encontrados.

Talvez por isso, seja tão importante valorizarmos aqueles que nos são caros, que mostram coerência entre o que sentem, fazem e falam. E mais importante ainda, é valorizarmos nossa intuição, que muitas vezes nos diz para não seguirmos adiante, mas ignoramos e seguimos em frente e depois nos decepcionamos, não só com o outro, mas também com nós mesmos. Por isso, observe mais, fale menos e tenha a certeza que para alguém ser especial para você e participar da sua vida, deve respeitar ao outro como a si mesmo o que, infelizmente, poucos conseguem.

Por tudo isso, confie acima de tudo em você! E no máximo em uma folha de papel em branco, se quiser desabafar. E lembre-se do que escreveu Jean Paul Sartre: "Não importa o que fizeram com nós, o que importa é aquilo que fazemos com o que fizeram de nós".

Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática.