sexta-feira, 3 de julho de 2009

Traição - Agora As Mulheres Em Jogo



Traição - Agora As Mulheres Em Jogo

Cresci ouvindo dizer que os homens traem muito mais do que as mulheres e isso parece ser um consenso geral. Sempre fiquei intrigada com essa quase competição, em que a meu ver, no mínimo, não há vencedores. Também sempre me pareceu muito claro a permissividade, e às vezes até estímulo à traição masculina, assim como a grande repressão à traição feminina. Logo a avaliação de quem trai mais, além de totalmente inútil é, por todas essas condições, impossível de ser feita.

É inegável que a mulher traída geralmente é vista como a vítima de algum safado mulherengo. Digna da solidariedade das pessoas, não se vê necessariamente atingida em quesitos pessoais, como respeitabilidade social. Historicamente, houve momentos - e creio que em muitos lugares e cabeças ainda há - em que ser traída é esperado e considerado absolutamente normal.
Isso vem do tempo em que sexo com esposas teria que ser "respeitoso" e, portanto, cheio de restrições. Se esse era o comportamento respeitoso, logo sexo sem restrições com outras mulheres não oferecia nenhuma ameaça. As mulheres ficaram conformadas com esse destino, algumas vezes até tendo nesse costume a vantagem de não ter que fazer muito sexo, assunto cheio de tabus e preconceitos, levando a dimensão prazerosa de sua prática para muito longe.

Independente do gênero, traição provoca dor em homens e mulheres mas não tenho dúvida de que para os homens é mais devastador. Além da "dor de amor", o homem traído é visto, principalmente por outros homens, de uma forma muito humilhante, como se ficasse destituído de sua virilidade, masculinidade e respeitabilidade. O "corno" é motivo de chacota e ridicularização. Fica mais difícil se recuperar e superar a situação com tanta pressão cultural acumulada ao longo do tempo. A mentalidade coletiva está mudando, é fato, mas isso acontece de forma muito lenta e diluída.

A mulher quando trai, muitas vezes não divide a experiência com alguém e costuma ser bastante cuidadosa com as possibilidades de ser descoberta. Quando isso acontece, as conseqüências são sempre graves e dificultam muito o processo de resolução da questão, ficando muitas vezes implícito que ela nada merece e que perdeu toda e qualquer razão que pudesse ter para ter se envolvido com outra pessoa.

A traição feminina clássica é aquela que se caracteriza por um encantamento, apaixonamento da mulher por outra pessoa ou, pelo menos, pela situação de estar se sentindo valorizada e desejada por alguém. Geralmente é um comportamento que vem acompanhado de muitos conflitos, porque o envolvimento afetivo leva a fantasias românticas e, conseqüentemente, a sofrimento.
Mesmo quando não querem de nenhuma forma a separação, tendem a ter uma expectativa de reciprocidade amorosa. Essas mulheres reclamam da falta de atenção de seus maridos/companheiros. Sentem falta de comportamentos românticos e de se sentirem surpreeendidas como nos velhos tempos. Reclamam que até sexualmente se sentem pouco compreendidas e contempladas. A vida virou familiar demais e acabam se sentindo carentes da sedução masculina. É preciso muita maturidade para ultrapassar essa sensação de monotonia dentro da própria relação. A mulher costuma se sentir muito culpada e temerosa das conseqüências. Acaba ficando muito aflita e ansiosa.

Tenho visto de forma assustadoramente crescente, ultimamente, a traição motivada por grau altíssimo de vaidade e dificuldade com o envelhecimento. Em época de tanto culto à jovialidade e associação dessa característica com sensualidade, algumas mulheres têm muita dificuldade em aceitar as transformações físicas pelas quais estão passando e tornam-se vigilantes e atuantes implacáveis das medidas antienvelhecimento. Malham muito, gastam grande parte de seu tempo fazendo tratamentos de beleza e, quando desejadas por homens mais jovens, vêem nisso a confirmação da perpetuação de sua juventude. Essas traições pouco envolvem o romantismo citado anteriormente. Parecem ser um movimento individual, um grande restaurador para o ego, quase um antídoto para a baixa auto-estima.

Ouço com espantosa freqüência mulheres que reclamam de tédio em suas vidas amorosas. Sentem-se com muito pouco espaço e intimidade para falar de sentimentos com seus maridos e suficientemente fragilizadas para a iniciativa de efetuar mudanças práticas em suas vidas. Muitas vezes essas modificações sequer dizem respeito ao casamento, mas sim a outros segmentos de suas vidas.

A verdade é que relações longas requerem cuidado e investimento incessante por parte de todos os envolvidos. A traição pode trazer sopros momentâneos de motivação e sensação de se estar vivo e feliz. Mas, quando não se quer desfazer o casamento, é melhor partir para formas mais eficazes e seguras de enfrentar o problema.

Quando não existe mais amor e desejo, aquele casamento já não faz mais sentido e está sendo mantido quase que exclusivamente pelo medo de rompê-lo. É melhor criar consciência e coragem para viver o fim, e dessa forma ficar livre para caminhar em direção a momentos mais felizes e verdadeiros. Às vezes, por medo de ficarmos sozinhos, nos mantemos indefinidamente vivendo a famosa e terrível solidão a dois.

Todos merecemos outra chance. Caminhar em direção a sentir plenitude e felicidade vale sempre muito a pena. Algumas vezes a nova chance está na reestruturação da própria relação e outras vezes, no final das mesmas.

Eda Fagundes é psicóloga clínica

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