quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Síndrome De Vítima: A Incapacidade De Aceitar O Mundo Como Ele É


Síndrome De Vítima:
A Incapacidade De Aceitar O Mundo Como Ele É

Todo comportamento humano decorre da concepção que nós temos da realidade e nessa realidade existem dois pólos bem distintos: Aquilo que nós somos e aquilo que nos cerca. Nossa postura nesta vida depende do modo como estabelecemos esta relação. A relação entre nós e os outros, os membros da família, os membros da sociedade, entre nós e as coisas, entre nós e o trabalho e entre nós e a realidade externa. A nossa maneira de sentir e de viver depende de como cada um de nós interioriza a relação entre estas duas partes da realidade. E uma das formas que aprendemos de nos relacionarmos com os outros é a postura que designamos por vítima.


O que é a vítima?

A vítima é a pessoa que se sente inferior à realidade, é a pessoa que se sente esmagada pelo mundo externo, é a pessoa que se sente desgraçada face aos acontecimentos, é aquela que se acostuma a ver a realidade apenas em seus aspectos negativos. Ela sempre sabe o que não deve, o que não pode o que não dá certo. Ela consegue apenas ver a sombra da realidade, paralelo a uma incrível capacidade de diagnosticar os problemas existentes. Há nela uma incapacidade de procurar o caminho das soluções, e neste sentido, ela transfere os seus problemas para os outros; transfere para as circunstâncias, para o mundo exterior, a responsabilidade do que lhe está a acontecer. Esta é a postura da justificativa. Justificar-se é o sinal de que não estamos a querer mudar.

Para não assumirmos o erro, justificamo-nos, ou seja, transformamos o que está errado em injusto, e de justificativa em justificativa, paralisamo-nos, impedimo-nos de crescer.

A vítima é incompetente na sua relação com o mundo externo. Enquanto colocarmos a responsabilidade total dos nossos problemas em outras pessoas e circunstâncias, tiraremos de nós mesmos a possibilidade de crescimento. Em vez disso, vamos procurar mudar as pessoas.

Esse tipo de postura provém do sentimento de solidão. É quando não percebemos que somos responsáveis pela nossa própria vida. Por seus altos e baixos, seu bem e seu mal, suas alegrias e suas tristezas; é quando nossa felicidade se torna dependente da maneira como os outros agem. E como as pessoas não agem de acordo com nossos padrões, sentimo-nos infelizes e sofredores. Realmente, a melhor maneira de sermos infelizes é acreditarmos que é a outra pessoa que compete nos dar felicidade e, assim, mascaramos a nossa própria vida frente aos nossos problemas.

A postura da vítima é a máscara que usamos para não assumirmos a realidade difícil, quando ela se apresenta. É a falta de vontade de crescer, de mudar, escondida sob a capa da aparição externa. Essa é uma das maiores ilusões da nossa vida: desejarmos transferir para a realidade que não nos pertence, sobre a qual não possuímos nenhum controle, a deficiência da parte que nos cabe.

Toda relação humana é bilateral: nós e a sociedade, nós e a família, nós e o que nos cerca. O maior mal que fazemos a nós próprios é usarmos a limitação de outras pessoas do nosso relacionamento para não aceitarmos a nossa própria parte negativa.

Assim usamos o sistema como bode expiatório para nossa acomodação no sofrimento. A vítima é a pessoa que transformou sua vida numa grande reclamação. Seu modo de agir e estar no mundo são sempre uma forma queixosa, opção que é mais cômoda do que fazer algo para resolver os problemas.

A vítima usa o próprio sentimento para controlar o sentimento alheio; ela se coloca como fraca e dominada, para dominar o sentimento de outras pessoas. O que mais caracteriza a vítima é a sua falta de vontade de crescer. Sofrendo de uma doença chamada de perfeccionismo, que é a não-aceitação dos erros humanos, a intolerância com a imperfeição humana, a vítima desiste do próprio crescimento. Ela se tortura com a ideia perfeccionista, com a imagem que deveria ser, e tortura também os outros relativamente naquilo que as pessoas deveriam ser. Há na vítima uma tentativa de enquadrar o mundo num modelo ideal que ela mesma criou, e sempre que temos um modelo ideal na cabeça é para evitarmos entrar em contacto com a realidade. A vítima não se relaciona com as pessoas aceitando-as como elas são, mas da maneira que ela gostaria que fossem. É comum querermos que os outros sejam aquilo que não estamos conseguindo ser, desejar que o filho, a mulher e o amigo sejam o que nós não somos.

Colocar-se como vítima é uma forma de se negar na relação humana. Por esta postura, não estamos presentes, não valemos nada, somos meros objetos da situação. Querendo ser o todo, colocamo-nos na situação de não sermos nada. Todavia as dificuldades e limitações do mundo externo são apenas um desafio ao nosso desenvolvimento, se assumirmos o nosso espaço e estivermos presentes.

Assim, quanto pior for o doente, tanto mais competente deve ser o médico, quanto pior for um aluno, melhor deve ser o professor. Assim também quanto pior for o sistema ou a sociedade que nos cerca, mais competentes devemos ser com pessoas que fazem parte desta sociedade; quanto pior for nosso filho, melhores pais devemos ser etc. ... Desta forma, colocamo-nos em posição de buscar o crescimento e tomamos a deficiência alheia como incentivo para nossas mudanças existenciais.

Só podemos crescer naquilo que nós somos, naquilo que nos pertence. A nossa fantasia está em querer mudar o mundo inteiro para sermos felizes. Todos nós temos responsabilidades naquilo que está ocorrendo. Não raras vezes, atribuímos à sociedade atual, ao mundo, a causa das nossas atribulações e problemas. Talvez seja esta a mais comum das posturas da vítima, generalizar para não resolver.


Os problemas de nossa vida só podem ser resolvidos em concreto, em particular. Dizer por exemplo, que somos pressionados pela sociedade a levar uma vida que não nos satisfaz, é colocar o problema de maneira insolúvel.

Colocar-se como vítima é economizar coragem para assumir a limitação humana, é não querer entender que a morte antecede a vida, que a semente morre antes de nascer, que a noite antecede o dia. A vítima transforma dificuldades em conflito, a sua vida num beco sem saída. Ser vítima é querer fugir da realidade, da imperfeição, dos limites humanos.

A vítima é uma pessoa orgulhosa que veste a capa da humildade. O orgulho dela vem de acreditar que ela é perfeita e que os outros não prestam.

A vítima é uma pessoa que sofre e que gosta de fazer os outros sofrerem com o sofrimento dela, é a pessoa que usa as dificuldades físicas, afetivas, financeiras, conjugais, profissionais, não para crescer, mas para permanecer nelas, e a partir disso, fazer chantagem emocional com outras pessoas.

A vítima é uma pessoa que ainda não se perdoou por não ser perfeita, e transforma o sofrimento num modo de ser e se relacionar com o mundo. É como se olhasse para a LUZ e dissesse: Que pena que tenha a sombra..., é como se olhasse para a vida e dissesse: Que pena que tem a morte... e se nega a admitir que a luz e a sombra são faces da mesma moeda, que a vida é feita de vales e montanhas.

Não são as circunstâncias que nos oprimem, mas, sim a maneira como nos posicionamos diante delas, porque nas mesmas circunstâncias que uns procuram o caminho do crescimento, outros procuram o caminho da loucura e da alienação. As circunstâncias são as mesmas, o que muda é a disposição para o alvorecer e para desabrochar, ou murchar e fenecer.

(Desconheço o Autor
)

3 comentários:

  1. Excelente texto. Obrigada Ceiça...grande abraço

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  2. Maravilhoso...ADOREI ESSA MATERIA..grande abraço

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  3. É tudo uma questão de responsabilidade por nossas escolhas, a partir disso morre a vítima, coitadinha e fica o conhecimento, aprendizado e descobertas.

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